Foto: Adriano Pansera |
Inventar-se-ia
em seus desencantos. Brincaria com os que estavam presos em cantos, tiraria as
bordas daqueles encantos esquecidos na memória, mofando com a espera infantil
que tem os desesperados, ao sentirem na pele uns segundos passando a vez para
outros. Tempo ficando para trás, o que até que não poderia ser tão mal assim.
Sentiu
várias vezes que o que lhe devorava a carne com certo poder de posse, tal como
águias famintas, eram os hábitos. Enquanto que novo era o medo de sentir. Assim
achava às vezes, por mais que o novo fosse tão velho que suas barbas brancas
quase varriam o chão. Mas deixa essa sujeira, deixa esses rastros. Deixa tudo
aí que a vida vem em furacão e leva.
Havia
o medo, mas havia o conhecimento de que havia algo que pudesse acender o
espírito sem que desse totalmente por si. Sem precisar roubar as luzes dos
postes daquela cidade suja e barulhenta. Queria a luz dos acasos, a luz de
chuva com sol. Aquela chuva que pode vir mansa ou arrebatadora, ou pode só
pingar. Provocando inundação, ou por maldade sair e alimentar a secura. Às
vezes nem um, nem outro. Sabe-se que pode ser nada, ou que arrebente logo o
mundo com seu tudo!
Por
vezes, acusava dar um passo em falso. Mas até esse hábito cansava de tal modo,
que era um esquecer-se de si, jogar-se numa cama de pregos só para sentir que
existe enquanto ser que respira. Só para não esquecer que pode por vezes
sangrar. Ia então, caminhando pelo asfalto numa corrida sem pressa. Como se
pudesse assim asfaltar sua solidão terrena, que é tão de todo mundo! Mas poucas
vezes uma pega na outra e se abraçam totalmente, na tentativa de preencher o
perigo às vezes nocivo do toque. Nos afastamos com algo que aprendemos para
escondermos nós dos outros, um olá.