E de
novo é janeiro. Mal posso acreditar em como é possível sobreviver a rotações
assim, tão rápidas. Ilesos nem tanto, é verdade. Um tanto machucados às vezes,
mas esquecemos quando a ferida dá sinais de cicatrização. Esquecemos tanta coisa.
Só se sobrevive no esquecimento. Esquecer deve ser a mais saudável das tarefas.
Janeiro
me espeta. Janeiro é aquele menino pirracento, que meche contigo até que se
perca as estribeiras. E perco mesmo, me perco. É inquietação, é branco
demais, e branco suja-se com a facilidade que não sabe de onde vem. E o branco
daqui, se afeta nos mais profundos desejos de mudança. Prometo o mundo, e o
mundo deve ser branco. Sujo-o. Este ano, tive o cuidado de não tentar prometer
nada. Mas prometi não prometer e quebrei a corrente. E prometo várias coisas
sim, porque é janeiro e já disse que janeiro me espeta.
E de
novo é a mesma data tantas vezes repetida. O mesmo número, o mesmo mês. Outros
anos que tem muito dos mesmos. E hoje é
o janeiro. Janeiros sempre me comovem, é transição. Parece que janeiro é mês de
repensar o que anda atravessado aqui, ali, acolá. Ano novo, vida nova? Números,
números... Calendário novo, a soma de um
e as exclamações. Acabou rápido, quase não acaba...
Janeiro
entrou com lua, e eu, eu estava lá. Lua que talvez quisesse se esconder de seu
próprio turbilhão. Quando o relógio apontou o outro dia, quando os desejos de
bom ano vieram, eu estava era perdida mesmo. Perdida em tantos outros desejos,
que aqui, faziam mais barulho que os fogos explodindo em cores e num rugido que
sempre me incomoda o ouvido. Os desejos explodiam também. Das mais diferentes
cores, era o boom. Sempre foi, manifestação inquieta e doida de querer o que
não se pode, de querer o que não se tem. Faz mal passar assim? Aluada. Virada
em devaneios. Tudo indica que passarei o ano em devaneios. Brindando com quem o
tato alcança, e com o intangível, comigo. Sou devaneadora por decreto do universo
e nada há de se fazer, por isso mesmo escrevo.