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domingo, 6 de janeiro de 2019

Poema: No último dia


No último dia em que se deixou escapar pelas mãos
Se fez matriarca de sua sina
Como se desde menina,
Soubesse que a teria.
Botou no mundo e acalentou

No último dia em que te deram a mão
Ela soltou. Foi esquiva e só.
Não que não quisesse companhia
Mas de assombração já herdará
Sua sombra, seus passos

Já bastava ser mais de uma
Quando conseguia ser tantas
Guias
Tantas líricas, tantas elas, tantas lentes
Multifacetada, multiatarantada

Descobriu que só sobreviveria
Por meio da contemplação, da transcendência
Da reinvenção do cotidiano
No último dia de sua vida, ainda poetizava
Sobre a última hora de um dia qualquer.

- Michelle Saimon, No último dia
- foto: @thais.rosa.1