sexta-feira, 23 de novembro de 2018
Assim como as paixões - Michelle Saimon
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
Me pinto sim
Foto: Josias Assis |
Um homem que só conheço de rosto
Um cara cheio de barbas e teorias me chega e diz:
"Porque você se faz tão senhora?
Se pinte não, que você fica velha, moça."
Me pinto sim
Porque sou uma senhora dona própria
Porque vivo a me fantasiar de mim
Por querer me assemelhar as borboletas
Coloridas, vivas, brincantes do ar
Por ser encarnada nas metamorfoses
E transcender a matéria corpo em que nasci
Sendo artista nele.
Me pinto sim,
E por ser tão nova pintora
Tão
Velha-nova de alma
Provocando rugas de risos
Em eterno ensaio do que tem por dentro.
Sou pintora dos dias
Que anda sem calma versando o que vê
E porquê, não te in-te-res-sa, oxe!
.
-Michelle Saimon, Me pinto sim.
.
📷@josiasassisfotografias
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Acontecimento
O baleiro
Prendia os cabelos da filha
Brincava com o crespo de seus fios
Como se ali estivesse o dia
De sua infância
O baleiro tão grande,
com um pedaço
Inteiro de gente
Me viu e perguntou:
“Quer comprar uma bala, menina?
Essa bala tem amor”
Comprei
Mas a bala nunca seria
Tão doce quanto aquele episódio.
Michelle Saimon, 2014
Tom de castanho azul
Girou
E se deparou com a alma
Nua, nua, nua
E depois, vestida de azul
Girou
Caindo em si,
Em cima da cama
Quase em coma
Entre os lençóis de pedras
E sol
Perdeu horas a fio
Fiando saudades
Nas palhas do coqueiral
Girou desperta
Caindo no azul infinito da baía
Onde seu corpo e olhos negros
Casavam com o mar.
Michelle Saimon, novembro de 2015
Anuviações breves
Dos tons e ventos de meu interior, eu tenho andado com saudade...
Logo mais caminho pra lá, pra fingir que fujo desse meu correr desenfreado, de tanto corre.
E é mais um corre que tenho que fazer pra ir aí.
Acontece, que eu quero calmaria, ao mesmo tempo que me estruturo nas múltiplas funções de ser Michelles no mundo. No plural mesmo, ligada no 220w.
Nado no meu próprio caos, que é um mar lindo.
Quem aguentar que venha.
segunda-feira, 9 de julho de 2018
Perder a viagem, ganhar o dia
Mirante de São Lázaro, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas |
O galo tá cantando como se anunciasse tudo que é música que eu pretendesse ouvir. Os outros sons do cotidiano se fazem presentes também. O carro do ovo anunciando seus mil ovos "graúdos e selecionados", a buzina dos carros, as conversas das pessoas. Reclamam de tudo eles.
Não é do cotidiano ouvir o galo cantando assim por aqui, ou o vento passando com tanto frescor. Cotidiana é a sequência que se repete. Já a música dos galos e os movimentos do vento, nunca são os mesmos.
É sempre susto (susto bom), quando se vem e é possível esbarrar no inesperado. Até os galos que cantavam sem que eu nunca os ouvisse, parecem ter aumentado de volume, de pose, e se fazem presentes mesmo que longe.
Seria eu então que já não mais os ouvia? A surdez com que nos põe os dias é quase infinita. Para além disso, ouço buzinas, o farfalhar dos papéis... intermináveis.
Infinitos
Insuportáveis
O infinito de dentro das minhas células grita por mais. Se agitam todas na alegria inesperada de um dia qualquer poder sentar no mirante, achar uma pena perdida na rua, sentir a brisa vindo de fora pra dentro e ouvir os galos cantarem às dez da manhã no meio de uma capital.
De onde posso ver o mar.
De onde posso me ver, espelhada nas águas ao longe. Espalhada no vento. Junto de mim.
Nas vistas da igrejinha que me inspira tantas belezas, em frente à tantas memórias. Sinto-me trocando de peles, de eus, eternamente. Espiralando-me pelo ar.
Michelle Saimon
21.06.17
Quando pensei que tinha perdido a viagem. Mas na verdade, ganhei o dia.
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